Antes de mais nada, penso que tradição e inovação não são palavras antagônicas. Até porque, ninguém inova sem partir de uma base, um conhecimento prévio.
Aprendi muito num almoço promovido pela importadora Intefood no restaurante Ca’d’Oro, para apresentar os vinhos italianos do Grupo Marilisa Allegrini.
E, desde já, compartilho com vocês.
A apresentação de Robin Shay, gerente de exportação do grupo, foi muito além de falar dos vinhos pelos vinhos durante a degustação.
Seu entusiasmo de admirador da cultura italiana nos trouxe história, geografia, artes e recortes de seres humanos envolvidos num processo artesanal, familiar, que não abrem mão das memórias do passado e, mesmo assim, miram o futuro.
Carpaccio CA’D’ORO em tost de pão branco e crisp de Grana Padano
Vinhos do grupo Marilisa Allegrini
Marilisa Allegrini, sexta geração de uma família dedicada à produção de vinho, foi a primeira italiana a aparecer na capa da Wine Spectator, a revista mais influente no mundo do vinho.
Da propriedade de sua família em Valpolicella, Vêneto, ela se aventurou pela Toscana em 2001 para embarcar em uma jornada ambiciosa de diversificação da produção, ao lado de suas filhas Carlotta e Caterina.
Hoje, as três comandam as vinícolas toscanas: San Polo (Montalcino) e Poggio Al Tesoro (Bolgheri).
Marilisa, psicóloga, atuava em hospitais, antes de ser convencida por seu pai a trabalhar na vinícola da família. Da mesma forma, convenceu as duas filhas, Carlotta, médica e Caterina, formada em filosofia, a perpetuarem a tradição familiar. Porém, sem abrirem mão de suas formações.
Robin Shay nos contou durante o almoço, que trabalha desde cedo no universo do vinho e a visão dessas três mulheres com formações distintas, acrescentam muito ao resultado do trabalho.
A filosofia e a saúde fazem parte do dia a dia. Os vinhedos precisam ser saudáveis, para prescindirem de produtos químicos e as vinícolas utilizam uma filosofia orgânica e sustentável em todos os aspectos, inclusive adotando a bioarquitetura.
Língua Bovina, purê de batatas trufado, espuma de ervilha torta e molho Marsala.
CURIOSIDADES
San Polo (Montalcino)
Montalcino é uma cidade italiana encravada em colinas da região da Toscana. Lá a sangiovese é uma uva icônica, que dá origem aos mundialmente famosos, Brunello di Montalcino, produzidos por vinícolas locais. Montalcino é uma das DOC (Denominação de Origem Controlada) mais antigas da Itália.
Os vinhedos de San Polo são administrados pela família utilizando técnicas totalmente orgânicas.
A combinação ideal de exposição, solo e características climáticas de cada parcela, aliada a anos de experimentação e estudo, permitiu à equipe agronômica eliminar completamente tratamentos químicos como fertilizantes e pesticidas, preferindo o uso exclusivo de produtos totalmente naturais.
Duo de Pasta Bergamasca ao Pomodoro e Basílico; Agnolotti de Queijos Magros e Espinafre / Casoncelli de Carnes, Codeguim e Amaretti.
Essa abordagem, que também inclui a eliminação de ervas daninhas, baseia-se no uso de produtos de origem natural para estimular o sistema imunológico da videira: aloe vera, algas, calêndula, fungos e compostos vegetais são apenas alguns exemplos.
Isso leva a uma melhora fisiológica na resistência da videira a potenciais ameaças, resultando na produção ininterrupta de frutos intactos, saudáveis e concentrados.
Os ciprestes fazem parte do cenário da Toscana e de Montalcino. Homenageando as árvores emblemáticas e lembrando que o vento conduz o pólen das árvores para os vinhedos, o rótulo do San Polo Podernovi Brunello di Montalcino, vinho Cru da vinícola, possui a cor verde.
Poggio Al Tesoro (Bolgheri)
Bolgheri é uma cidade Toscana próxima ao mar. Embora, hoje produza rótulos icônicos surgiu desafiando as regras dos vinhos italianos.
Pra começar era uma área sem tradição vitivinícola. Então, alguns italianos resolveram plantar por lá uvas francesas típicas de Bordeaux, como Cabernet Sauvignon, Carbernet Franc, Merlot e Petit Verdot.
Os vinhos produzidos em Bolgheri por utilizarem uvas não permitidas pelo sistema de Denominação de Origem eram considerados, não importando a qualidade, “Vino da Tavola” (vinho de mesa), a mais baixa classificação no ranking dos vinhos italianos.
Mas, a qualidade era boa, tanto que os italianos, deram um jeito, antes do reconhecimento com DOC de driblarem a nomenclatura “Vino da Tavola”. Começaram a utilizar a palavra “aia” (“lugar onde vende”) para designar os vinhos. Assim surgiram: Sassicaia, Ornellaia, Solaia.
O destino dos vinhos de Bolgheri mudou completamente quando, em uma degustação às cegas, o crítico Robert Parker concedeu 100 pontos à safra de 1985, pensando ser o vinho francês Mouton-Rothschild de 1986.
A partir de então, se haviam os vinhos toscanos, esses passaram a ser denominados como supertoscanos.
E, como reconhecimento é dinheiro, a Itália se moveu para criar o DOC de Bolgheri. É uma DOC das mais novas que existem.
Poggio al Tesoro (Bolgheri)
Em 2001, movidos pelo desejo de explorar novos horizontes, Marilisa Allegrini e seu irmão Walter expandiram sua expertise em vinificação para além de Valpolicella, chegando a Bolgheri.
“Meu irmão, Walter, era um agricultor único. Ele era profundamente apegado à sua terra natal, Valpolicella. Sabia tudo sobre ela: os vinhedos, as variações climáticas, como pescar lagostins com as mãos. Ele também sabia sonhar com novas aventuras, além das fronteiras e horizontes conhecidos.
Ficou impressionado com os grandes nomes do vinho que haviam estabelecido vinícolas aqui, com o Viale dei Cipressi que ele adorava, com a proximidade do mar, com a profunda diversidade de solos, com o clima favorável, dizia ele, para a produção de vinhos tintos de… “Grande caráter e elegância”.
Cansamos de procurar. Encontramos nosso tesouro, Poggio al Tesoro.” conta Marilisa.
Inesperadamente, Walter faleceu em 2003. Então, Marilisa continuou o trabalho ao lado das filhas.
Dois produtos do primeiro ano de produção, 2003:
Sondraia: 65% Cabernet Sauvignon, 25% Merlot, 10% Cabernet Franc, vinho assinatura da empresa
Poggio al Tesoro Dedicato a Walter – uma produção muito pequena de um vinho monovarietal feito com 100% Cabernet Franc, que Marilisa dedicou ao seu irmão.
Ossobuco de Vitelo e Risoto de Açafrão.
Hoje a visão de mãe e filhas leva em conta a proteção do meio ambiente, respeitando o equilíbrio das videiras para que seus frutos possam expressar todo o seu potencial em um ecossistema incontaminado.
Essa abordagem ética e sustentável se reflete não só nas práticas agrícolas como culturas de cobertura e podas seletivas, que trazem fertilização orgânica e fertilidade vital ao solo, como também na baixíssima produção por hectare, podas diferenciadas, colheita noturna e otimização do consumo no vinhedo e na adega.
O objetivo é obter vinhos de alta qualidade, respeitando o equilíbrio e a força da terra.
VALE OBSERVAR
Enfim, duas vinícolas na mesma região, a Toscana, uma delas em colina, outra perto do mar. Imaginem então a diferença das condições climáticas.
Uvas completamente diferentes utilizadas nos vinhos; a DOC mais antiga e uma das mais recentes Denominações de Origem. Quantos desafios!
ONDE COMPRAR
Todo Vino (loja virtual para consumidor final da importadora Interfood).