Antes de mais nada, um estabelecimento gastronômico fazer 25 anos em São Paulo, é motivo mais que suficiente para uma grande comemoração. Parabéns, Veridiana Pizzaria!
Funcionar no mesmo lugar então, nesses tempos em que tudo vira prédio “loft” pasteurizado, é comemoração dupla.
E, habitar um casarão de 1903, que não foi derrubado por um trator, mas tombado pelo Patrimônio Histórico? Aí, só aplaudindo efusivamente de pé!
Senta que lá vem história
A primeira unidade da Veridiana Pizzaria, foi inaugurada em 2000 por Roberto Loscalzo e Tonino Grieco, em Higienópolis na esquina das ruas Dona Veridiana e Major Sertório e ganhou tal nome por sua localização.
Falando em localização, a rua se chama Dona Veridiana, em homenagem a Veridiana da Silva Prado, filha do rico empresário Antônio da Silva Prado (Barão de Iguape).
Dona Veridiana rompeu com os padrões das elites cafeeiras e teve enorme importância para a vida política e cultural do fim do Brasil Imperial e início da República Velha.
Veridiana da Silva Prado e seu pai Antônio da Silva Prado (Barão de Iguape).
A Dona Veridiana
Nascida em 1825, aos 13 anos de idade foi obrigada a se casar com o próprio tio, Martinho da Silva Prado. Fórmula tradicionalmente adotada para perpetuar os negócios em família.
A relação sempre foi conturbada, em 1878, enfim, se divorcia de Martinho. Cabe lembrar, que não foi uma separação legal, porque isso não existia na época. Então, imagine o escândalo provocado na elite paulistana dona da “moral” e dos “bons costumes”?
foto arquivo Biblioteca Nacional.
Entre 1883 e 1884, na chácara que Dona Veridiana comprou em 1879 (batizada de “Vila Maria” em homenagem à sua dama de companhia Maria das Dores) foi construído, em estilo francês, o Palacete Veridiana da Silva Prado. Tombado pelo Patrimônio Histórico, atualmente, abriga o Iate Clube de Santos SP (Av. Higienópolis, 18). Exatamente em frente ao prédio da Veridiana Pizzaria.
Dona Veridiana criou um salão intelectual onde se encontraram inúmeras personalidades históricas para discutir arte e política: Teodoro Sampaio, Joaquim Nabuco, Graça Aranha, D. Pedro II e a Princesa Isabel, por exemplo.
Criou seis filhos. O primogênito, Antônio da Silva Prado foi Ministro de Estado, senador, deputado e o primeiro prefeito de São Paulo do período republicano. Eduardo Prado foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
revista: O Cruzeiro
O João (ou seria Juão?) Sebastião Bar
Atravessando a rua, voltemos ao casarão tombado de 1903, onde está instalada a Veridiana Pizzaria.
A música ao vivo de qualidade que hoje continuamos ouvindo por lá tem história!
Nos anos 1960, funcionava ali o João Sebastião Bar (um trocadilho com o nome do compositor alemão Johann Sebastian Bach?) um dos principais palcos da Bossa Nova na capital paulista, negócio do advogado Paulo Cotrim.
Segundo matérias da revista Veja e jornal Folha de São Paulo, só cantaram e tocaram por ali ninguém menos que: Claudette Soares, Carlos Lyra, João Gilberto, César Camargo Mariano, Arthur Moreira Lima, Billy Blanco, Lúcio Alves, Elza Soares, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Johnny Alf, Geraldo Vandré, Alaíde Costa, Hermeto Pascoal, Pedrinho Mattar. Bem como, jovens talentos: Toquinho, Chico Buarque e Taiguara, que apresentavam suas primeiras músicas.
“O Juão Sebastião parecia o castelo do Drácula, com velas e candelabros. Lembro de cantar sentada no piano de cauda, de minissaia, e ver na plateia atores de Hollywood como Kirk Douglas”, contou em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, a cantora Claudette Soares, uma das responsáveis pelo sucesso do local, trazendo para São Paulo ícones da Bossa Nova.
Dizem que fechou por um motivo inusitado, o dono do espaço, não gostava de cobrar dos frequentadores famosos. Pedia apenas para que assinassem as contas. Enfim, colecionou grandes prejuízos e autógrafos.
Veridiana Pizzaria – Higienópolis
Nasce no ano 2000, num casarão de 1903 tombado pelo Patrimônio Histórico.
Na época, o sócio Roberto Loscalzo, recebeu uma condecoração por ter restaurado o imóvel mantendo as características originais da casa: fachada, piso, telhado, esquadrias e janelas de madeira.
Se por um lado, a Veridiana Pizzaria preservou a história, por outro trouxe para a cidade de São Paulo uma grande novidade, o ambiente com charme de restaurante. Desde o cuidado com o projeto arquitetônico de pé direito alto, paisagismo e luz natural, até o piano de cauda tocando jazz e bossa nova.
Pelo salão sempre desfilaram pizzas clássicas e criações inéditas, combinações que nunca abriram mão da qualidade dos ingredientes.
Veridiana Pizzaria – Jardins
Em 2005, na rua José Maria Lisboa 493, é inaugurada a unidade dos Jardins.
Dessa vez, o imóvel, bastante amplo, não é tombado e permite mais intervenções.
O perfil arquitetônico se mantém, mas a casa dos Jardins com pé direito maior ganha paredes de pedras, grandes fornos e espelho d’água.
Veridiana Pizzaria – Perdizes
Em 2014 surge a oportunidade de abrir nova casa, agora em Perdizes (Rua Turiassú 98).
Mais uma vez, o imóvel é tombado pelo Patrimônio Histórico. Sua construção é dos anos 1930 e, durante a reforma, igualmente manteve todas as características originais.
Com salões menores e charme arquitetônico, a casa é bastante procurada para a realização de casamentos durante o dia.
Os cardápios são idênticos nas três unidades tanto em relação as pizzas e entradas, quanto drinks e sobremesas.
As pessoas
Hoje, à frente dos negócios está a nova geração de sócios – a jornalista Nina Loscalzo, filha do fundador Roberto Loscalzo, e Jeremias Pereira, que começou na administração da pizzaria 22 anos atrás e acabou se apaixonando também pela área operacional e gastronomia, tornando-se um estudioso de novos processos.
No entanto, os fundadores Roberto Loscalzo e Tonino Grieco ainda circulam, diariamente, pelos salões para garantir a experiência dos clientes. O bom atendimento é parte importante do DNA da Veridiana Pizzaria.
“Um dos funcionários mais emblemáticos – por estar há mais de 25 anos, desde a abertura na casa de Higienópolis – é o nosso querido Juarez, que aos 67 anos ainda desempenha sua função de garçom com extremo profissionalismo e disposição.” conta Jeremias Pereira.
Nesse um quarto de século muitos clientes famosos de gerações distintas passaram pelas casas. Políticos, como Fernando Henrique Cardoso e Marta Suplicy; artistas Glória Pires e Mel Lisboa; cantores Billy Paul e Seu Jorge. Bem como: jornalistas, cineastas, esportistas e grandes nomes relacionados a cultura nacional.
A massa
Uma das principais inovações implantadas pela nova geração foi a massa de fermentação natural da casa.
Nina e Jeremias, com o apoio dos sócios fundadores, investiram num processo de pesquisa e experimentação de 2 anos até chegarem à receita atual.
Dessa forma, fizeram uma transição entre a farinha de trigo brasileira e a italiana Caputo, com variações na quantidade de água.
Trabalhada com as mãos, a nova receita é feita 100% de farinha e fermento italianos e alta hidratação (68% a 70% de água).
Após o preparo, a massa descansa então de 48 a 72 horas em câmaras frias construídas exclusivamente para esse fim.
Pancetta Artesanal com Mascarpone e Pinole.
As pizzas e o Menu
Entre os sabores que saem do forno, a tradição divide espaço com os toques autorais e a sazonalidade. Queria também destacar a boa variedade de pizzas vegetarianas.
O cardápio segue com os clássicos atemporais, como a Margherita ou a Della Nonna (calabresa artesanal sobre mussarela e molho de tomates frescos). Bem como, recebe constantes novidades, como a Burrata ao Pesto de Manjericão (hoje, um ícone premiado da casa), a Pancetta Artesanal com Mascarpone e Pinole e a, igualmente muito pedida, Due Funghi com Queijo da Serra da Canastra.
Burrata ao Pesto de Manjericão.
“Investimos em excelência e sempre buscamos os ingredientes de maior qualidade, que nós mesmos serviríamos para a família e os amigos”, atesta Jeremias, que ressalta ainda o investimento em maquinários modernos, treinamento e bom atendimento como peças fundamentais da engrenagem.
Dessa forma, comprovando a busca por excelência dos ingredientes, uma equipe de mulheres talentosas cuida dos tomates servidos na casa em pizzas e antepastos, desde a escolha até o processo de assá-los lentamente na brasa. Resultando num toque levemente defumado, com doçura natural e maciez característica.
Sobremesas
Enfim, para encerrar a refeição nada como uma boa sobremesa. Criação de sucesso, ganhou o nome de pizza La Dolce Vita (finas fatias de queijo brie, chocolate branco Lindt e calda de frutas vermelhas).
Não quer pizza de sobremesa? Tudo bem! Outras opções são: o tradicional Tiramisù e a Torta Veridiana (massa de cacau, creme de mascarpone e calda de chocolate amargo).
Para beber, a adega conta com variedade de rótulos de vinhos da Argentina, Chile, Uruguai, África do Sul, França, Itália, Espanha, Portugal, há apenas um espumante brasileiro.
A coquetelaria recebe atenção especial com bartenders que preparam clássicos (Aperol Spritz, Boulevardier, Dry Martini, Moscow Mule, Negroni, para citar alguns), receitas de assinatura própria e os Drinks Customizados, conforme preferências dos clientes.
Os prêmios
As mudanças foram positivas e o reconhecimento veio em prêmios recentes.
2023 – eleita melhor pizzaria do Brasil (Melhores da Gastronomia, revista Prazeres da Mesa).
2024 – entrou para a primeira seleção do 50 Top Pizza Latin America, ocupando a posição de número doze.
2024 – a melhor pizzaria de São Paulo no voto popular (prêmio Nossa UOL).
2025 – subiu mais um degrau no 50 Top Pizza Latin America, alcançando o 11° lugar.
A festa de 25 anos
A fim de comemorar seu quarto de século, a Veridiana Pizzaria convidou chefs premiados para criarem sabores especiais. As redondas ficam em cartaz até 30 de setembro de 2025, servidas apenas em formato individual.
Tive a oportunidade de provar todas ao lado dos chefs no dia do lançamento. Posso dizer que é difícil escolher a melhor. Veja abaixo a que mais te apetece e bom apetite!
Tássia Magalhães (Nelita) – queijo holandês Cablanca, tomate amarelo e brócolis confit tostado com azeite e alho.
Luiz Filipe Souza (Evvai) – abóbora com camarão e requeijão de corte da fazenda Atalaia.
Pier Paolo Picchi (Picchi) – bottarga, stracciatella, raspas de limão siciliano e pimenta-do-reino.
Marco Renzetti (Nino Cucina e Fame Osteria) – vegetais marinados e creme de azedinha, com berinjelas, abobrinhas italianas, endívias, tomate, alho, cogumelos paris, salsa, azedinha, flor de sal, pimenta dedo de moça e muçarela de búfala.
Bia Limoni (Shihoma Pasta) – molho de tomates San Marzano, stracciatella, alici, manjerona fresca, parmesão ralado e pimenta-do-reino.
Então é isso! A matéria fica por aqui, mas história continua sendo escrita. Que venham muitos e muitos anos, só existe futuro para quem conhece bem o passado.
fotos: divulgação e Mosaik Comunicação (chefs e pizzas 25 anos).