Calcinhas na Estrada – Rio Grande do Sul

1 - Calcinhas na Estrada - Rio Grande do Sul

Contei nas redes sociais que ia começar no Cuecas na Cozinha a coluna Calcinhas na Estrada. E aí está! Nossas destemidas Luna Garcia (morena – responsável pelas belas fotos) e Luiza Estima (loira – responsável pelo saboroso texto) partiram em busca de novos caminhos sobre 4 rodas. Primeira parada – Rio Grande do Sul! Bah que espetáculo de trabalho estão fazendo essas gurias tchê! Curta a fan page do Calcinhas na Estrada e acompanhe mais de perto essa aventura! Agora é com vocês minhas lindas!

“O Cuecas na Cozinha abriu espaço e o seu generoso coração para a ideia de conhecer a cultura gastronômica de diferentes locais sob o ponto de vista feminino, rodando de carro pela estrada. Assim nasceu o Calcinhas na Estrada. Formamos uma dupla: Luna Garcia, empresária do Estúdio Gastronômico e fotógrafa especializada em gastronomia, e Luiza Estima, empresária de comunicação em comida e bebida. Definida a missão, marcamos o primeiro destino de muitos: Rio Grande do Sul! O Estado e a cultura admirados por uns, incompreendidos por outros e pouco conhecidos por muitos atiçou nossa fome e curiosidade.

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Ansiosas por novidades do nosso quadrado – a cozinha – partimos de São Paulo para a estrada a bordo de uma Tucson 2009, equipadas com câmeras, tripé, iphones, pads, trilhas sonoras, biquínis, bijus, cremes e, claro, muito apetite, que Deus nos abençoou com uma dose reforçada. A Luna carregou shakes e cápsulas embelezadoras, já que teríamos com certeza muita comida e bebida boa mas precisaríamos de momentos detox… Luiza ainda se garantiu com uma bolsa térmica forrada com águas, iogurtes, queijinhos, salada de frutas. Tudo levinho. Quem viu nossa foto da saída, com arsenal perigoso como balas de goma, chicletes, energético e bananas fritas não sabe, mas fora o energético e o chiclete, quase nada foi consumido – agradecemos a preocupação.

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Dia 4 de janeiro de 2013 largamos pela Regis Bittencourt com tempo nublado (ideal para pegar a estrada) tendo como meta dormir em Joinville (SC), descansar e depois rumar a partir de Floripa para Lages (SC) e então descer a BR-116 e chegar a Caxias do Sul (RS), nossa primeira parada. Com oscilações entre chuva forte e calmaria nublada, passamos o tumultuado trecho até Registro (em SP) sem sobressaltos, rodeadas de caminhões e poucos colegas nos veículos de passeio. Antes de despencar mais água bem perto de Curitiba, a serrinha que desce até a capital paranaense diverte com as tendas de bananas, onde paramos para fotografar e esticar as pernas. Registros desse momento estão nos posts do Calcinhas.

Chegamos em Joinville sem eira nem beira: meia-noite, sem reserva e sem internet pra caçar um hotel no Google… Calcinhas destemidas, entramos na cidade com fé e logo encontramos pelo menos quatro hotéis em condições de pouso. Não foi de primeira, visto que muita gente da estrada estava parando para fugir da chuva e da noite, mas no ultimo endereço conseguimos um quarto – conforto e limpeza era o que precisávamos.

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Dia seguinte, 5 de janeiro iniciamos nossa temporada no Rio Grande do Sul, saindo de Joinville para Caxias do Sul. No hotel em Joinville nos indicaram subir a BR 282 a partir de Florianópolis para chegar a Lages. Primeira descoberta: a estrada é bonitinha, já começa a ter cara de serra e os atrativos característicos – cheirinhos de cipreste, de flor e de comida boa.

A região produz morangos e logo em seguida a sinalização avisa: Rancho Queimado, a terra do morango. Opa, vamos parar! Logo no trevo de acesso à cidadezinha achamos uma casa estilo rancho mesmo, em madeira, onde imaginamos comer queijos e morangos e outros produtos coloniais até chegar ao almejado galeto, na serra gaúcha, um de nossos objetivos gastronômicos (sobre ele, o galeto, falaremos em seguida).

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Pensávamos em finalizar nosso apetite de caminhoneiro (agora já nos sentíamos nessa turma e não mais na do passeio) diante do franguinho – até então vínhamos amaciando a fome com uns incríveis milhos assados (desconfiamos que na verdade são fritos), escondidos entre a maleta diet da Luna. Atravessamos o portal do tal lugar e logo avistamos um enorme balcão central de tijolos com chapas quentes cobertas de pratos de barro com muuuita coisa boa. Quem é que ia petiscar morango e queijos? Nem sombra dos morangos, talvez no festival das sobremesas, que ainda nem nos detivemos. Direto pra boia!

O lugar se chama Mério’s Country Bar e Restaurante. Apesar do nome de faroeste tem comida caseira serrana de ótima qualidade marcada pelo calor: da recepção aos pratos fumegantes – carnes, cozidos, purês e até um inesperado mexidão com peixe. Um dia nublado e fresco de verão abençoado pela refeição estilo outono-inverno caiu como uma luva e nós, vorazes e curiosas, como patas na sedução culinária da Dona Marlize Scheidt, a cozinheira que nos recebeu com braços e panelas abertos.

Vamos lá, Dona Marlize, explique pra nós o que são esses pratos: esse purê maravilhoso branquinho com linguiça; a carne gorda que solta macia e saborosa ao toque do garfo, a farofa fresca e crocante, sem muitos adereços.

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O Guimis é uma espécie de purê feito com repolho e batata, cozidos, e lingüiça ou bacon fritos. De acordo com a sabedoria da cozinheira do Mério’s, é assim que se faz:

  • Mais ou menos 10 folhas de repolho
  • 1 kg de batata branca
  • 150g de lingüiça ou costelinha defumada ou bacon refogados em cebola e temperados com pimenta e sal
  • 3 colheres de margarina ou nata
  • tempero verde

Primeiro é preciso separar as folhas do repolho, lavá-las e cortá-las pela metade. Elas vão para uma panela grande com os temperos e coberta com água. Depois de mais ou menos uma hora de cozimento, adicionar as batatas cortadas ao meio, deixando ferver por mais uma hora. Desligar e escorrer a água. Em separado, fritar a lingüiça/bacon e juntar aos demais ingredientes já cozidos. Por último, amasse tudo em amassador de purê até conseguir a consistência desejada. Pode acrescentar tempero verde picado.

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A farofa de pão do Mério’s em Rancho Queimado (SC) é muito fresquinha. O segredo é fritar a farinha de pão no azeite e outra: temperar com caldo de galinha! Ela até trouxe um pacote de caldo de galinha em pó, produzido por lá, para confirmar a receita.

  • 4 pãezinhos franceses (aqui chama cacetinho…)cortados em cubinhos
  • ½ kg de farinha de mandioca branquinha e crua
  • 2 colheres (sopa) de caldo de galinha em pó
  • Azeite ou óleo de girassol
  • Salsinha a gosto

Colocar o óleo na frigideira e esquentar. Jogar os pãezinhos no óleo bem quente e mexer com a colher, desmanchando um pouco. Em seguida colocar a farinha e o caldo de galinha. Ao final, jogar os verdinhos da salsinha para colorir e temperar.

A carne que comemos é chamada de granito, um corte que é do peito do boi, próxima da costela, muito gorda e macia. Bem temperada e assada, solta a gordura e faz um molho delicioso. Com um nacão bem servido pela Dona Marlize montamos o prato com a farofa, o guimis e uma couve cortada bem fininha e crua, regada com vinagre de vinho feito na casa. Delícia!

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Em sua gentileza e sorrisos para nos atender (vínhamos com muitas perguntas e ainda a impressionante câmara da Luna, que rouba a cena), Dona Marlize tenta me dizer que fazer aquilo tudo, há dez anos, com aquele jeitinho, servindo mais de 200 refeições por fim de semana na beira da estrada, é coisa fácil e simples. Pra ela. Conta serelepe que é só bater o repolho, amassar com a batata e depois misturar à linguiça já refogada, sem sequer desconfiar que precisamos de informações tipo o tempo para refogar, a quantidade de manteiga para deixar cremosa aquela mistura improvável… “Não é chucrute, se chama Guimis”, soletra toda pimpona, falando alemão de seus ancestrais. Ela não falou, mas muito depois descubro entre as receitas que é gordura que deixa o guimis cremoso é a nata – o ingrediente que encantou o paladar sofisticado da Luna. A Luna se descobriu na nata! Uma espécie de creme de leite, a nata é diferente desse: mais gorda, mais cremosa, textura de veludo com sabor de uma divina manteiga. É boa companhia e personagem principal em doces e salgados. Sobre a nata vamos falar mais tarde, em nossas voltas às mesas de Caxias e Bento Gonçalves, no café da manhã e jantar.

Dona Marlize segue tão encantada com nossa atenção que fez questão de trazer as farinhas, montar os pratos para as fotos, palpitar na escrita que tracejamos no papel para não perder nada. Sorridente e falante, não mostrou receio de entregar um segredo que ela nem sabe que mantém: o seu jeito de encantar com a culinária rústica e aconchegante em um rincão formoso e desconhecido que tem nome de coisa perdida, ou então achada entre os poucos salvados, o Rancho Queimado.”

RESTAURANTE MÉRIO´S COUNTRY BAR

BR 282, Trevo de Rancho Queimado

Fone: (48) 3275.0222

 

 

 

Alessander Guerra

5 Comentários

  1. As Calcinhas que estão na estrada são ótimas! Luiza e Luna, aproveitem essa aventura para além de trabalharem, se divertirem com a nossa cultura e gastronomia! Vocês terão momentos agradabilíssimos pelo RS e quando sentirem saudades, podem voltar! abração da Pousada do Engenho!

  2. Parabéns pela reportagem! Adoramos recebe-las aqui.Aguardamos vocês para uma nova rodade com muitas novidades e deliciosos produtos.
    Um grande abraço,
    Equipe Salumeria Caminhos de Pedra.

    • Fabiano, um prazer conhecer seu trabalho. Veja o post sobre o Caminhos de Pedra nesta coluna, com o titulo Torta de uva da Marli, que encontramos aí pertinho de você. Muito obrigada por nos receber. Abraço!

      Luiza e Luna – Calcinhas na Estrada

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